27 de mai. de 2010

Carta do Missionário Eliel- que está auxiliando o Pr. Wellignton no Campo de Cochabamba-Bolívia

E chegava mais um domingo. Saí para participar da Escola Bíblica Dominical e caminhava apressadamente pela rua calçada com pequenas pedras irregulares que me levaria até a avenida onde fica nossa igreja, percurso é de mais ou menos 530 metros. Nossa EBD começa às 10:30h e vai até o meio-dia, esse horário é para atender a duas necessidades: o frio matinal e os irmaos que vivem em áreas distantes da igreja. Voltando a falar da caminhada entre a casa e a igreja, enquanto caminhava, via pessoas pela rua, gente simples, camponeses que deixaram o campo em busca de uma vida melhor na cidade, mulheres que usam a invariável vestimenta tradicional cochabambina (saia a altura do joelho feita de veludo armada sobre várias anáguas, blusa rendada, chapeu branco), vizinhos que se comunicam entre si no idioma quetchua do qual eu só sei uma frase: "mana q'chua parla ni'chu" (eu nao sei falar quetchua). Já me tornei conhecido de boa parte dos moradores, creio que sou o único careca da regiao e sempre nos cumprimentamos com "¡Buenos días!", seguramente essas pessoas foram visitadas pelos participantes do Projeto Bolívia 2010.


Nao pude deixar de pensar no quanto queria ver a igreja cheia com essas pessoas. Algumas já tive a oportunidade de convidar mais de uma vez, mas até o momento nao tive o prazer de recebê-las nos nossos cultos. A essa altura eu já estava a poucos passos da igreja e me preparava psicológicamente para visualizar nosso grupo reduzido de irmaos, realidade de uma igreja em processo de plantaçao (ou implantaçao, como preferem alguns), ainda mais na Bolívia onde as pessoas nao costumam a frequentar uma igreja duas vezes no mesmo dia - ou vao ao culto matinal ou ao culto vespertino.


Já na porta da igreja fui surpreendido: o templo estava tao cheio que havia pessoas sentadas no chao. Demorei para entender o que estava acontecendo enquanto as perguntas borbulhavam na minha cabeça (Quem sao essas pessoas? Como chegaram aqui? Onde vivem? Sao crentes ou visitantes nao-convertidos? Que vamos fazer pra acomodar tanta gente?) e muitas outras... Parecia um sonho e por alguns segundo cri que estava mesmo sonhando. Logo procurei o pastor e ele, tao supreeendido quanto eu, me explicou que se tratava de um grupo de internas de um orfanato evangélico da regiao que nos estava visitando naquela manha. Os irmaos da igreja foram repetindo a cara de espanto, um a um, a medida que chegavam para aquela reuniao. Meio assustados e totalmente felizes preparamos um programa para atender ao grupo com classes bíblicas.


O diretor do orfanato comunicou que o grupo estará congregando-se conosco, o que muito nos alegrou!!! O grupo faz uma caminhada de 30 minutos para chegar até a igreja. Agora tínhamos um problema: o lugar que usávamos para a classe de crianças se tornou muito pequeno, algumas ficavam expostas ao sol e outras se expremiam compartilhando uma cadeira para duas pessoas enquanto outras tinham que assistir a aula em pé. A situaçao era ainda mais delicada porque a dona desse espaço estava querendo aumentar o valor do aluguel em 22%, quando o combinado era que isso só ia acontecer no próximo ano. Nos reunimos para orar especificamente por esse assunto e já nao sabíamos ao certo o que fazer. Chegamos a sondar o terraço da casa vizinha onde funciona uma loja de peças automotivas, mas o lugar nao parecia muito melhor.


O Pr. Wellington procurou a dona do lugar que estávamos usando pra tentar chegar a uma conciliaçao sobre o aluguel. Deus nos surpreendeu uma vez mais: A senhora reconheceu que o acordo seria que o aluguel aumentaria em 2011, nos ofereceu gratuitamente um espaço amplo nos fundos da casa onde poderíamos ter uma classe de adolescentes, colocou as cadeiras que aluga à nossa disposiçao (e sem custos) e ainda ofereceu seu micro-ônibus para levar os internos do orfanato depois da escola dominical cobrando o valor da passagem normal, algo como R$ 0,40. Nem preciso falar da nossa alegria!!!


Nesse domingo nossa classe completará um mês. No início as adolescentes do orfanato estavam muito tímidas, nao falavam e quando o faziam cobriam a boca com a mao ou encobriam o rosto com os cabelos. Hoje, graças a Deus, estao mais abertas, participam da aula mais espontaneamente e no domingo passado tivemos uma grande vitória: 5 delas foram à frente, acompanhadas de dois adolescentes que já congregavam com a gente e, diante de toda a igreja, recitaram o nome dos 27 livros do Novo Testamento.
A cada semana Deus tem acrescentado à igreja novas pessoas.


No próximo sábado estaremos realizando um mutirao para pintar a igreja e prepará-la para o inverno que já está dando sinais. Precisamos de colocar uma porta de vidro que poderá estar fechada nos horários de culto e ainda assim as pessoas verao que estamos aí. Estamos no outono e as temperaturas já estao nos 6ºC, logo chegará o inverno e as previsoes sao de temperatura bem mais baixas. Famílias inteiras se comprometeram de estar somando esforços conosco durante todo o dia, algumas irmas cozinharao e todos trabalharemos juntos.


A vinda do pessoal do orfanato nos trouxe novo ânimo mas nao foi um fato isolado, muitas pessoas tem chegado até a igreja. Famílias inteiras tem vindo aos cultos e vejo a açao de Deus atraindo pessoas. Nós temos nos esforçado para prover um discipulado consistente, uma assistencia às famílias, dar oportunidade aos irmaos no serviço cristao, continuar evangelizando e buscando em tudo glorificar a Deus. Deus sempre nos surpreende, tem operado de uma forma maravilhosa que vai muito mais além do que pedimos ou pensamos. Às vezes nos sentimos pequenos, inadequados, irrelevantes, caminhamos a caminhada crista por um caminho difícil, pedregoso, desértico. Em momento um momento assim o Senhor me levou a um oásis, renovou minhas forças e me mostrou que o agir é dEle, o poder é dEle e que Ele detém o controle de todas as coisas e mesmo sendo totalmente auto-suficiente, Ele escolheu contar comigo - apesar das minhas limitaçoes - na Sua Obra. Eu que pensava que andava por um caminho de pedras, na verdade estava indo pelo caminho das pedras: depender do Senhor. Existe privilégio maior?
"Porque de Él, y por Él, y para Él, son todas las cosas. A Él sea la gloria por los siglos. Amén" Rm. 11:36

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Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei? E quem há de ir por nós?

Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei? E quem há de ir por nós?
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