Sinto-me muito
abençoada em ter tido a oportunidade de ler esta obra (relatos
os quais David Brainerd não intencionava publicar, mas permitiu antes de sua
morte que fosse publicada posteriormente pelo seu sogro Jonathan Edward).
Meu Coração em diversos
momentos se viu como um só com o de David Brainerd, especialmente nos seus
momentos de oração e de introspecção. Identifiquei-me muito com ele em alguns aspectos.
O encontro de Brainerd com
Deus – sua conversão de fato, (apesar de ter crescido ouvindo a palavra) foi
algo lindo. A forma como a luz de Cristo o iluminou e ele pôde compreender que
não havia nada que pudesse considerar como seu melhor que pudesse oferecer a
Deus e por meio disso alcançar sua graça salvífica. E, mesmo após sua
regeneração, a cada dia ele volta a expressar a sua consciência desta verdade,
e a demonstrar o quanto abomina sua antiga atitude auto-suficiente e soberba diante
de Deus. Ele agora reafirmava, dia após dia, a sua vileza e indignidade diante
de Deus. Havia agora em Brainerd uma sede por santidade não mais como mérito
para obter salvação, mas como necessidade de agradar e glorificar a Deus.
E cada dia mais Deus
vai fazendo com que seu coração queime cada vez mais por missões, ate que se
coloca disposto a servi-lo até o fim de seus dias. David Brainerd diz sempre em
seu diário que até mesmo o desenrolar de suas orações ocorre sob total
dependência de Deus ele sempre reconhece que é de Deus que recebe a capacidade,
o poder para clamar pelas almas, por compaixão por elas, e por sua própria renúncia
a si mesmo e às tentações humanas do orgulho e da soberba e a auto-glorificação.
E, de fato, é o
Espírito Santo que nos impele a clamar da forma como Deus deseja. E algo que me
chamou a atenção é que Brainerd dedicava muito tempo à oração, e muitas vezes
se retirava para estar em, como ele mesmo chama “orações secretas”. Acredito
que a importância que damos à oração, a longos momentos com Deus é um
termômetro para sabermos o quanto amamos de fato a Ele, e David Brainerd, de
forma não intencional, nos deixa ver seu coração dilatado de amor a Deus e, em
conseqüência deste amor ao Senhor, o amor pelos que se perdem, floresce;
diferente de outrora, quando ele temia lançar-se totalmente nas mãos de Deus.
Seus problemas de saúde
surgiram bem cedo, primeiro, quando estava na faculdade, quando teve sarampo,
depois, quando teve esgotamento; mais tarde, também esteve depressivo.
Brainerd sempre
salienta sua luta contra si mesmo, menciona sempre sua falta de amor e
gentilezas cristãos e a sua falta de humildade. Ele sempre exprimia seu anelo a
dedicar-se ao serviço do Reino: “Que eu possa sempre viver para Deus!”
A partir de 1742, Brainerd
passa a colocar-se à disposição para ir aos índios kaunaumeek, embora
continuasse com aquela forte convicção de indignidade.
Suas dificuldades no
campo, logo ao chegar: os temores, sensação de impotência para a realização de
sua tarefa, receio de não conseguir obter êxito, entre os índios. Ele fala também
de sua solidão, frio e fome; mas percebe que tinha motivo suficiente de
consolação no Deus bendito.
É maravilhoso o
depoimento da índia dentre os primeiros que tiveram interesse pela mensagem
trazida por Brainerd. Ela disse que seu coração havia chorado desde que ouvira
a sua pregação pela primeira vez.
No seu aniversário (em
20/04/1743) de 25 anos, ele conclui que havia vivido pouco para a glória do
Deus eterno. Após três meses, Brainerd decidiu
morar de vez entre os índios. Mas, por não ver resultados em seu trabalho ali, Brainerd
já estava prestes a renunciar a sua esperança de viver para Deus. Em 16 de
agosto (1743) Brainerd relata que esta com debilidade física pela dificuldade
em conseguir alimentos apropriados. Com seu cavalo perdido na floresta, ele
mesmo também não pode ir buscar o pão. Entretanto, Brainerd, assegura de que
estava descobrindo a disposição de viver contente sob qualquer circunstância.
Ele redige um humilde pedido de desculpas ao reitor e aos diretores da
universidade sobre um recente problema em que se envolveu e foi expulso da
mesma.
Em 20 de setembro, me
chamou a atenção o fato de Brainerd referir-se aos índios com os quais
trabalhava de “os meus índios”; o que denota compaixão, zelo e apego. Ele
começou, então a estudar a língua deles.
Em janeiro de 1744 ele
faz uma avaliação e agradece a Deus pela sua graça e bondade sobre aqueles 15 meses
ali, e por ter conseguido ofertar para fins caridosos ali cerca de cem libras,
e por Deus tê-lo ajudado a atravessar todas as dificuldades daquele ano.
Nos dias que se
seguiam, Brainerd continuava a entristecer-se por causa a sua condição, por
fazer tão pouco para Deus. Ele sempre deseja ser santo, ser humilde e estar crucificado
para o mundo.
Ele ficava ansioso por
causa da dificuldade em relação à oração e a meditação quando se encontrava
fora de casa por dias para estudar a língua dos índios. Mas ao voltar pra casa,
ele voltava a ter a liberdade desejada para dedicar-se a oração. Acho admirável
quando ele se refere à oração como “um exercício tão doce”.
Ao falar sobre o seu
trabalho para o Pr. Pemberton, ele disse que se esforçou para levá-los de forma
mais clara possível: 1) A pecaminosidade e a miséria do estado em que se
achavam naturalmente; a maldade de seus corações, a corrupção de suas
naturezas, a pesada culpa sob a qual estavam, e como estavam sujeitos à punição
eterna. E também a total incapacidade deles salvarem-se a si mesmos, quer de
seus pecados, quer de suas misérias as quais são a justa punição dos pecados;
de seu não-merecimento de misericórdia da parte de Deus, diante de qualquer
coisa que eles mesmos pudessem ter feito para obter o favor divino, e, em
conseqüência, sua extrema necessidade de Cristo, a fim de serem salvos. 2) Procurou
mostrar-lhes a plenitude, a toda suficiência e a liberdade da redenção operada
pelo Filho de Deus, com base em sua obediência e sofrimentos, em favor dos
pecadores que estão perecendo, como essa sua provisão ajusta-se a todas as
carências deles, e como ele as chamava e convidava a aceitarem a vida eterna
gratuitamente, não distante a toda a pecaminosidade deles.
Brainerd compôs
diversas orações e com a ajuda de seu intérprete, as traduziu para o idioma
deles, logo aprendeu a pronunciar as palavras e pode orar com eles na sua
própria língua. Também traduziu diversos salmos, e pouco depois eram capazes de
entoá-los no culto a Deus.
Ele se alegra ao
perceber que muitas verdades ensinadas eram perceptíveis em suas mentes por
meio de seus diálogos e indagações, quando ele tinha oportunidades de
aprofundar mais em determinados temas. E ainda, muitos deles, entre lágrimas,
indagavam o que deveriam fazer para serem salvos.
Após cerca de um ano
com os índios kaunaumeek, Brainerd, por decisão junto aos representantes da
missão, partiu para trabalhar com os índios do rio Delawere. Brainerd não veio
a aceitar este segundo convite para tribos por desconhecer os sofrimentos num
campo indígena, mas por amor. Ele chegou a rejeitar convites para pastorear
igrejas onde poderia ter conforto e um ministério bem sucedido; preferindo
dedicar-se a evangelização dos índios.
Brainerd passava por um
momento de debilidade física, chegando a cuspir sangue.
Ele era sensível e
humilde para com Deus, reconhecendo até mesmo, as vezes em que na pregação
percebia que a seus olhos mais sobressaía sua habilidade retórica do que a sua
espiritualidade, porém mais tarde, agradecia a Deus pela sua assistência,
reconhecendo que dependia exclusivamente de Deus.
Mesmo em meio aos
sofrimentos nunca se permitiu cogitar desistir do seu trabalho entre aqueles
pobres índios, e sempre sentia Deus a encorajá-lo.
Brainerd fez-se
presente em um funeral entre os índios e ficou impressionado ao ver suas práticas
pagãs; e isto o levou a clamar pelas almas deles diante de Deus.
Brainerd registra como
estava se sentindo no dia de sermão de aprovação para ordenação, a qual ocorreu
no dia seguinte.
Ele fala de momentos em
que pregou aos índios sentindo-se muito desencorajado, e ainda enquanto pregava
percebeu algo mudou: foi cheio de amor, calor, poder e ajuda de Deus e, além disso
tudo, ele concluiu que o Senhor havia tocado nas consciência deles.
Ele morava a cinco
quilômetros da tribo. E precisava cavalgar até a tribo todos os dias para a
realização do seu trabalho entre eles.
É impressionante como Brainerd
demonstra, em seu relacionamento particular com Deus, em seus diálogos
realizados por meio de seu diário, uma vida totalmente rendida à grandeza do
Pai! Frequentemente podemos ler ele se referindo-se a si mesmo com um “pobre verme”
e clamando a Deus que aceite sua vida como oferta.
Breinard menciona sua
dificuldade em lidar com os índios no aspecto “cultural”, o qual envolvia
festas e idolatria e demônios etc. Menciona também como satanás lançava setas
em sua mente, mas mantinha sua confiança fixa em Deus. E posteriormente,
Brainerd pode observar o agir de Deus no coração daqueles índios.
Acredito que o diário
de Brainerd ajudou muito os missionários que posteriormente, dedicaram suas
vidas a evangelização dos indígenas daquelas regiões, pois ele fala com
detalhes acerca de como eles pensavam acerca de Deus, acerca dos brancos e
acerca do cristianismo e como eles reagiam de forma preconceituosa à mensagem
do evangelho e das vezes que demonstravam interesse em ouvi-lo e quiseram que
ele tirasse duvidas acerca do cristianismo.
Ele enfrentava muitos
perigos em suas viagens; frio, mau tempo, etc. Certa vez, a sua égua quebrou a
perna e ele teve que sacrificá-la e seguir viagem a pé. Ele e seu intérprete
pernoitando no meio da mata, tinham que dormir cercados de lobos que uivaram por
perto. Por vezes se perdeu na floresta e andou por lugares terrivelmente
perigosos, e isto, muitas vezes acontecia quando ele estava muito doente; mas
sempre sendo preservados pelo Senhor e reconhecendo esta graça.
Brainerd ficou muito
preocupado com aqueles índios, quando por causa de sua saúde teve que deixá-los
até que melhorasse.
Mais tarde, ele narra
com alegria acerca das duas primeiras conversões; a do seu intérprete e sua
esposa e do batismo deles. É maravilhoso quando ele passa a mencionar os frutos
de seus trabalhos em meio a estas aldeias, a forma linda como o Espírito Santo
convenceu aquelas pessoas de sua miserabilidade, e como ele ficava comovido em
contemplar tudo aquilo. Pessoas salvas e libertas, famílias restauradas, tudo
atestava que o Senhor agia na vida daqueles índios e Brainerd, contudo,
mantinha seu coração humilde e em nada atribuiu a si mesmo mérito algum.
Ele também relata como
a maioria dos índios de Forks of Delaware, diferentemente dos de Crossweeksung,
eram escarnecedores, e como zombavam dos demais que iam ouvi-lo e choravam nas
reuniões. Brainerd registra que acredita que Satanás parece ter seu trono
naquela aldeia de maneira notória, pelo fato de ali estarem os mais alcoólatras,
os mais maléficos e bandidos.
Em setembro / 1745, Brainerd
visitou a ilha de Juncauta, onde não obteve sucesso algum devido à tamanha
idolatria e dureza de coração deles e por falta de intérprete; ele diz que
ficou muito abatido ao perder a esperança acerca da conversão deles.
Ele relata momentos
entre os seus índios, para os quais voltara em que, após a sua ministração,
todos vinham para sua residência a fim de saberem que deveriam fazer para ser
salvos. Ele conta que os índios vieram de todos os cantos para este lugar, e
levantaram pequenas cabanas para si, todas a um raio de cerca de quatrocentos
metros de onde ele se encontrava, o que era muito conveniente para a instrução
publica e particular deles.
Ele expõe também seu cansaço,
da fragilidade de sua saúde física e da solidão que sente.
Ele menciona que a Missão
ajudou seus índios a quitarem altas dívidas contraídas por eles tempo atrás por
causa de seus vícios passados, como o de bebidas alcoólicas; a Missão ajudou-os
ainda, comprando terras para eles; para que não tivessem dificuldades em
estabelecer e ampliar a sua congregação de índios crentes naquele território
(oitenta e duas libras e cinco xelins, em moeda corrente de Nova Jersey que
vale oito xelins por onça de peso).
De volta a Forks of Delaware,
ele levou consigo seis índios para que dessem seu testemunho de conversão
àqueles índios de coração endurecido ao evangelho. Ao voltar, trouxe consigo
aqueles que demonstraram interesse em continuar sendo instruídos acerca do
cristianismo. E, ao despedir-lhes de volta a sua tribo, alguns dias depois,
alguns dos índios de Crossweeksung os acompanharam a fim de fortalecer-lhes por
mais alguns dias.
Foi muito edificante
ter lido os testemunhos de conversão de alguns índios no diário de Brainerd.
Outra coisa que me
chamou a atenção é o fato de que, até mesmo novas cidades nasceram a partir de
populações de índios convertidos que anelavam por viverem juntos na comunhão
que agora ganharam em Cristo como uma sociedade transformada por Ele. E além de
ajudá-los a iniciarem a cidade, Brainerd deu-lhes ainda, assistência por um
tempo, a fim de que eles conseguissem viver ali de forma auto-sustentável. Como
é bom saber das grandes e positivas contribuições do cristianismo protestante
na vida da humanidade!
O dono deste
maravilhoso Diário discorre com paixão acerca da piedade destes novos cristãos
índios, e ainda, de como se comprometeram publicamente em, a partir deste marco
em suas vidas, aonde quer que fossem ou estivessem, viveriam para a glória de
Deus.
Em se tratando de sua
metodologia ao evangelizar os indígenas que, além da necessidade comum a todos
os homens por causa do pecado original também traziam diversos problemas de
ordem moral, como vícios, infidelidade conjugal, etc.; Brainerd diz que a sua
própria experiência, bem como a Palavra de Deus e o exemplo de Cristo, e de
seus Apóstolos, o ensinaram que o exato método de pregação, que é o mais
adequado para despertar no ser humano o senso e a vívida compreensão de sua depravação
e miséria em um estado decaído, é também o método que obtém maior sucesso na
mudança da conduta externa das pessoas. O diálogo pessoal, com solenes
aplicações da verdade divina à consciência humana é o método que fere, na raiz,
todas as inclinações para o vício. Brainerd afirma que, em Mateus 23.26, quando
Jesus diz: “Hipócritas! Limpa o interior do copo, para que também o seu
exterior fique limpo!”, Ele quer dizer que, se a fonte for purificada, a
corrente ficará naturalmente pura. Por isso, se pudermos despertar nos
pecadores um vívido senso de corrupção e depravação internas – sua necessidade
de mudança de coração – e assim engajá-los na busca pela mente purificada, os
seus vícios serão corrigidos, sua conduta e conversão serão ajustadas.
Ao final de seus
registros, Brainerd diz alegremente que, dos que tomaram a decisão por Cristo,
muitos foram consolidados pela transformação de mente e de conduta, a qual era
visível a todos. Ele conta que lutou por não encorajar que ilusões satânicas
tivessem lugar entre eles, e para que falsas conversões tomassem lugar entre os
que eram acompanhados por ele. Ele menciona casos que surgiram entre eles no
início de sua fé, como o pecado do orgulho espiritual e da ambição de serem
mestres dos outros, etc. E afirma que seus índios têm aprendido a distinguir
entre o ouro e a escória, a fim de que esta última seja “pisada como a lama das
ruas”.
Ele encerra clamando
por todas as tribos indígenas existentes, até mesmo pela mais remota, para que
conheçam a salvação de Deus.
Eu fui muito edificada
por meio desta leitura!